quinta-feira, 25 de março de 2010
Estética do desespero II
Do que rôo sobrarão os ossos
É desta palidez anônima
Que me sirvo
Desta dor que vem como impostos
O povo
Quer o seguro de um ponto batido
Amanhã não te verá como bandido?
E me desespero, pois não uso óculos.
Que fim terão meus cálculos.
Ainda os ossos não me traem
Como fila de banco
Espero a verdade que me atrai
Nela fico ainda mais só e manco
Seguem a música do desdizer
Em alto e ruim alarido
Queria esta força corruptos ter varrido
Mas a usam para digladiar como lazer
Manchetes vermelhas ouço
E me empanturro com unhas
Neste estrupo televisionado
Ganhará o mais irado
Desespero
Espero
Berro
Queria meu enterro
Mas ainda tenho ossos
Ilustração:
Gao Xingjian (Ganzhou, 4 de janeiro de 1940) é um novelista, dramaturgo e crítico literário francès de origem chinesa. Também é um tradutor, sobretudo das obras de Samuel Beckett e Eugène Ionesco, além de se dedicar à pintura.
Gao Xinjian nasceu na cidade chinesa de Ganzhou, e cresceu em Taizhou, cidade da província de Jiangsu. Gao Xinjian naturalizou-se francês em 1997.
Foi agraciado com o Nobel de Literatura de 2000, por A Montanha da Alma
quarta-feira, 17 de março de 2010
Estética do desespero
É um corpo sem cor
Que para entre os carros
Chorando sem limite
Invade um banco rasgando notas altas
Cheirando gás das descargas
Abraçando todos em um ônibus lotado
Cantando Nik Cave na porta dos lojistas
De sandália e smoking
Juntando água da chuva
Entrando no próximo carro aberto
Gritando eu te amo na janela das aulas
Juntando garrafas plásticas e colocando nas lixeiras
Pagado xérox do hino nacional
Comendo as cores e lambendo os dedos
Em ordem e progressivamente
Cortando arvores para fazer palitos
Casando para descasar
Morrendo para viver
E vivendo para não sorrir
Ilustração
LAURO WINCK RIO PARDO, RIO GRANDE DO SUL, BRAZIL
Aposentado, Escritor, Poeta, Ilustrador, Designer, Fotógrafo Só nas horas vagas, pra não ficar sem fazer nada. laurowinckgallery.blogspot.com/2008/11/abstra...
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