terça-feira, 27 de julho de 2010

Trago




Pago 
o afago 
que trago...





Mas sem gelo.




Foto por: Alceu Amaral

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Tempos, frio


O café estava presente, a mesa posta, a TV vociferava novidades atrasadas e alarmantes, ela já tinha acordado, ele nem dormiu.
Terminou de vestir-se protegeu-se.
Estou indo.
Ok.
Esta frio lá fora? Perguntou ela.
Esta.
Esta sim.
Esta frio desde ontem.
Deste antes de ontem, desde a semana passada, do mês passado, desde o ano passado.
Esta frio muito frio.



 
 
 
 




Arte de:   Franz Kline (Wilkes-Barre, Pensilvânia, 23 de Maio de 1910 — Nova Iorque, 13 de Maio de 1962), foi um pintor americano do movimento artístico designado por expressionismo abstrato, que se centrava geograficamente em Nova Iorque e temporariamente nos anos 1940 e 1950.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Papel pele II




Com quantos escarros
Temos uma pele humana?
Assim comida pelo sol
Negra sem nascer.
Seca.
Pele lascada
Ferida macerada
Encarcerada no baldio dos sentimentos
Seca o sangue dos narcotizados
Fere os santos de plantão
E estrupa o olhar dos crucificados
Estende tua cútis nas ruas
Para saltos aramados passarem
Mescla escrementos com lamentos
Desvirgina os papéis
Sevicia os fiéis
Em pedaços te espalha pelos cantos escuros
Dribla o muro moral dos claros
Seja funéria face da fábula
Lambe com afinco
Os com cara de zinco engravatados
Cobre a cidade como lençol
E conserva em formol este mundo exemplar
Aconchega os espúrios enfumaçados
Os pedintes pedantes afastados por vidros bem lavados
Os pedreiros desconstrutores
Os narizes queimados
E os perdidos no labirinto da garrafa

Pele sem nome
Com sobrenome apócrifo
Parede de todo muquifo
Pele sem grifo
De todos
Dentro de todos
Adendo
Inlido
Limo
Lodo
Coito
Pele

Arte por Belle Wether BelleWether@CornerPocketArt.com





sábado, 3 de julho de 2010

Papel pele



Vai rasga minha pele
Me fere
Usa unha como objeto
Refaz este afeto
Já não temos teto
Usa esta unha
De mil alcunha
Me chamas
Escreve nas curvas
Com palavras turvas
Sulca
Este poema carmim
Feito de mim
Embaixo da tua unha

Me parta
Dilacera como vocifera
Fera farta
Que subjugo
Não vendo não alugo
Esta gota de sangue
Feito tinta viva
Ébrio aderiva
Neste agora mar de sangue
E lençóis gigantes
Escreve esta história torpe
Risca minha costa
E rabisca a moral
Este contrato de nós
Sem testemunha ou ética
de frenética luxuria sofre

escreve
na verve
do meu corpo
com tuas unhas
feito canetas
e minha pele
papel