quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Canto da Mulher acordada


 
Bata-me
E me acorde
Agrida o ventre valoroso mesmo vazio
Acorrente-se em sangue
O mesmo que sorri
Agora espalha no chão animalidade
Surre o rosto poético
Em seu ódio patético

Fira-me
E tire de si o H
Cuspa e esporre no seu reflexo
Queira um genuflexo forçado
E receba o não resistente

Force os dedos farpados
Na pele azulada um dia anilada
Hoje roxa
Pise com pés de aridez
No colo fértil
E vista-se de estupidez
Com voz alta deixe de falar,
e rosne excrementos voadores

Resisto, por frágil tomada
Em orgulho armada
Meu grito velado,
Grito que ecoa em solo gelado

Intempestivo delito atroz
Corre veloz ao ares da injustiça
Atiça o repúdio castiço de outras
Contra a razão postiça
do Homem sem H

Soquei-me
Para que eu acorde
E mova o céu da covardia broxa
Ilumine com tocha
A escuridão das acomodadas
Acordarei e nas ruas da razão panfletarei
O que quatro paredes soaram por muitas noites
Mulher com todas as letras do alfabeto

Mulher
Acordada






Arte: Di Cavalcanti
Em fevereiro de 1922, Di Cavalcanti tornou-se o pioneiro idealizador da Semana de Arte Moderna, ganhando o mundo da arte no Brasil. O artista também mostrou seus quadros pela Europa e pela América.
Dentre suas obras pintou “Mulheres Protestando”, em 1941. Di Cavalcanti foi um homem que lutou pelos seus ideais, e chegou a ser exilado do Brasil. Nas palavras do escritor Mário de Andrade, Di Cavalcanti foi “o mais exato pintor das coisas nacionais”.