terça-feira, 20 de outubro de 2009
O Futuro do País
A manhã era vivente, sorridente previa um dia repleto de luz, mas não confundi este estado inicial com felicidade ou algo do gênero apenas um turbilhão de tudo que pode acontecer em um dia me tomava com esperança rara.
O café ressaltava um raio de sol que perdido transitava na fresta da janela, tomar banho, estava fresco, pensei em agasalho, exagero, me veio assaltar a idéia, o café esfriava enquanto juntava meus acessórios que montavam um rito todo meu, por morar sozinho era respeitado e mantido, uma vez que outra ameaçado por umas doses a mais na madrugada, mas esta estática rotina me dava o aval para a loucura. O trabalho não distante de casa facilitava meus lençóis de farras e atrasos, por mais que queimado eu sempre não era notado como o mais atrasado.
A chave, o fechar da janela acima do fogão, desligar o rádio que me colocava entre a irritação e as notícias do mundo, escurecer a casa, a cada passo decidido em direção a rua, um ato de segurança que era celeiro para minhas divagações matutinas, na maioria das vezes sob a tormenta do mau humor. Escovar os dentes, direita esquerda língua fundos, o espelho rápido e pequeno estacionar o olhar... Ligar o alarme.
A porta percebe minha euforia o sol me recebe, a rua abre seus braços, somente o portão é o obstáculo, é estranho lembrar-se de Carruagens de Fogo numa hora destas...
A calçada mostra traços que a madrugada deixou: um odor de cerveja derramada, logo na frente da minha casa! Bem talvez tenha sido eu! Impossível não rir. A padaria da esquina consegue dar eco a sua produção de pães, mas meu regime já começou! E devo resistir. Começa o inevitável acenar para os vizinhos e conhecidos de alvorecer, pessoas que saem pela manhã para trabalhar e contribuem para que este país ande, eu não sei bem para onde, mas que ele esta andando esta.
Por falar em pais à medida que troco de calçada me lembrei da professora Josefa, era uma entusiasta do Brasil. Volta e meia estava discutindo formulas para o desenvolvimento da nação dentro da sala de aula, afim que todos opinassem e contribuíssem pelo menos na utópica construção de uma consciência coletiva nacional coerente e com garra, e que nós fossemos esta consciência, bem eu só fui entender este detalhe anos depois, mas tudo bem, talvez porque tenha começado a ouvir Punk Hard core, nesta mesma época e este drinque de pensamento critico sobre os tapetes da nação com suas vassouras corruptas era o sinal vermelho de um povo inteiro, grande professora, por qual esquina deve andar? Ela tinha uma frase que vociferava em momentos de grande excitação, seja para amplificar nosso senso de disciplina ou dentro de uma discussão quente sobre política dizia com fervor que nós éramos o futuro da nação,
_É o futuro da nação! Daí partiam todo o tipo de assunto articulado da forma que ela queria e nós entendíamos.
Tempo bom que eu não tinha que questionar estes sapatos e esta calça e calçadas eram membros do meu corpo imaginário em que o mundo era o destino de um andarilho que não era eu, mas que me espelhava com veemência, é como se tocasse este projeto sentindo as valetas de minhas impressões festejarem a lembrança e cada loucura que fiz assim já não poderia ser denominada, pois era o alicerce do que sou agora.
Mas uma nuvem pequena e burguesa acende o farol dos confortos das coca-colas almofadadas em frente a enlatados televisivos de segunda vendido para mim como clássico confundindo minhas memórias de fraternidade plantadas por mãos católicas e bem intencionadas.
Resumindo. O que eu daria por estar neste carro dirigindo, sem ter que escutar estes funks sem rosto. -O futuro da nação!
Já estou a três quadras, o futuro da nação esta indo trabalhar na repartição.
De repente.
Eles dobraram a esquina, eles tomaram a calçada, a mãe enorme quase o dobro de mim amparava sua barriga juntamente com os peitos caídos cansados de muito dar leite para os sete filhos que ali estavam galgando passos e disputando sua atenção. Vi de longe que ela vestia a camiseta promocional de algum político com o sorriso falante, diminui o passo.
A menina da ponta, já não consigo saber se era a do meio ou sei lá o que conduzia um outro menor com uma camisa que servia de segurança para um bico que carcomido deve ter servido para os outros, já quase criando vida fazendo parte da família, de pé descalços, o da esquerda era o maior pelo menos em estatura se vestia ou tentava como um raper, mas duvido que tivesse mais que oito anos suas canelas se perdiam na bermuda larga e desbotada, carregava uma sacola descomunal com roupas coloridas, à medida que me aproximava, uma das mais magras também aproximava o ranho negro capturado no nariz para a boca, ela tinha olhos grandes ao contrário de todos os demais e da mãe também, vi que era a mais clara entre a turba de enxovalhamento que tomou conta do que entendia como família, sim era uma família
Eu só conseguia me lembrar selvagemente de uma frase: O futuro do país, o futuro do país.
Na idade de um daqueles pobres eu ouvia a professora falar que era o futuro do pais, eu era e não sabia, eu agora não podia passar obstruído parei o andar, o futuro do pais não me deixou passar.
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...que país é esse? que país é esse? Como diz o poeta não me pergunte que mundo é esse que vamos deixar aos nossos filhos, mas que filhos vamos deixar ao mundo.
ResponderExcluirBelo conto..
..que país é este? que país é este? Como diz o poeta não me pergunte que mundo é esse que vamos deixar aos nossos filhos, mas que filhos vamos deixar ao mundo.
ResponderExcluirBelo conto..