sexta-feira, 30 de abril de 2010

Cortar


Uma dor nova
Eu em uma esquina
Aqui chuva fina.
Um adágio cinza
E o vazio a alma pinça.
Este retrato passado
Foi de ontem
Vitima de hoje.
Tão claros,
A escuridão agora não foge.
Temo este papel virar papel
E degusta-lo como fel
Depois rasgar
Em dois, o que era um.
Temo a discórdia doidivanas
De uma palavra desdita.
A ruptura infinita
Depois desfazer a daninha desventura
É risco sem ventura
Ferida que definha ao toque.
O retrato
O casal que se afoga
No naval destempero
Quem pode voltar ao porto firme
Depois da fadiga de uma briga?


Foto de , Dudu Cruz (Eduardo Augusto Carrilho Cruz), é músico percussionista, escreve crônicas e há mais de 10 anos trabalha com diagramação eletrônica.

domingo, 18 de abril de 2010

Gaveta investível




Tenho em uma gaveta calças.



Falo gaveta no sentido mais guardado da palavra.


Fechadas estão limpas, limpas.


Ou estariam mofadas?


Eu não sei


Estão lá em repouso


Pois meu corpo em outras cabe


Não mais nestas.

 
Pela gaveta não há frestas


Fechada


O colorido fechado


E minha boca aberta


O que entra me impede de abrir


Renascer aquelas calças


Não entra minha mão


Não entra

 
Engendra barreiras


O que não controlo


Não bolo solução


Para entrar na gaveta


Azul preta ou violeta


Que cores tinham


Que dor violenta


De não poder por vontade própria





Vestir


Não posso.


Não posso.


Não posso.