domingo, 7 de novembro de 2010

Terra e sangue uma invasão



Enquanto o magro barbudo e azedo lhe penetrava, pensava, via, sentia.



O Oficial chegou e escolheu se estabelecer na barraca grande, era alta e dava para ver todo o acampamento, carregava um papel e uma caneta, a pasta um outro de colete levava, os polícia iam organizando a fila e sendo cuspidos, a fila era grande já,com suas armas que passavam da cabeça, alguns não falavam, eram soldados de chumbo.
_Pega as inchadas, pás, arados põe no caminhão, da pro fazendeiro, ordenou o oficial.

Algumas barracas ardiam em chamas e outras em pranto, algumas mulheres, tinham um pranto recolhido.
Gritos, palavrões, fumaça, cães sendo degolados, os mantimentos sendo amontoados, nada escapava daquela mão, de quem era aquela mão? Até hoje ela pensava e não sabia responder, por medo, raiva, dor ou porque não queria seguir respondendo tamanha interrogação.
_Faz o caminhão entrar, sem estragar o terreno do Dr, ouviu? Falava já mais alto.
Separaram crianças e mulheres em uma fila longe dos maridos, elas gritavam, vociferavam, algumas com palavras de ordem, outras com ofensas desafiantes, outras chamavam para briga, esquecendo sua magreza , sua tez cansada e judiada, eles de chumbo mais e mais se pareciam.
Via tudo ouvia tudo, achou estranho o homem gordo de bombacha sentado numa caminhonete alta, prateada, que fumava um charuto fedorento que exalava destacado entre a fumaça dos bambus queimados e estalantes.
Mas estranhava mais aquilo tudo, era sua casa que estava sendo demolida, era sua boneca de pano que caiu embaixo da roda do camburão, enquanto os soldados riam e olhavam para ela de cima a baixo, com um olhar que ela não conhecia.
Agora o oficial estava na janela do carro do homem, que escondido na aba do chapéu mirava com o dedo vários locais.
Quando voltou ouviu. _ Peguem estes mantimentos do Programa do Alimento e façam uma fogueira, queimem tudo.  Agora.
Tinha umas flores no costado da taipa do açude, que estava sendo feito,o seu Vilmar pisava nelas enquanto corria e fugia, lá ele caiu com um tiro, os polícia o cercaram, como insetos agora, um enxame, e logo brigavam entre si, um apalpava o corpo roto,hoje ela sabe, mas antes somava mais uma pergunta, porque?
_Joga a bandeira também no fogo, era outro grito.
Derrepente tudo mudou, um caminhão alto preto, forte, roncava o motor, e levava somente os homens por cima, tinha um toldo que escurecia tudo dentro, mas viu o reflexo de coronhadas, e de sangue espirrando alto, enquanto o caminhão marcava a terra ao sair.
O outro caminhão demorava mais, algumas mulheres e crianças entravam, lentamente neste após ser observadas por uma fila de polícias. Que riam e passavam a mão no saco.
Foi quando ela ouviu.
_Esta leva para o coronel.
Pegaram-lhe pelo braço, apertando, os dedos ficaram marcados ali depois de tudo, por mais que gritava e chamasse sua mãe, só os tapas ouvia, a levaram para a única barraca que estava em pé, onde saiu uma  outra menina sangrando pela perna e quase desacorda, viu aquele olhar estático, aquele olhar era um fero em brasa.
Lá ela ficou amordaçada pela ameaça do policial com a arma na mão.
Até que o homem de botas e bombacha entrou, tirou o chapéu e esalou uma baforada fedorenta na barraca, que tremia ao vento enegrecido pela fumaça mal cheirosa.
Tapeou-a e a jogou no chão, com os cabelos nos olhos ainda viu o homem baixar as bombachas. Gritava e apanhava na mesma medida.
Ele a cuspiu e arrancou- lhe a veste que por velha se rasgou fácil. Com a outra mão lhe apertava forte o seio recém nascido, intercalou as mãos com seu pênis a achar sua virgindade, penetrou, rasgou, mordeu e gemia , babava.
Já não se mexia enquanto o gordo fedorento encima dela se movimentava, parou de gritar, xingar, e bater, agora só se mexia em seu corpo ferido, um misto de sangue e lagrima a correr.
Ele saiu, pegou o charuto do chão, olhou e jogou em seu peito, a brasa pegou em sua pele, gritando viu o homem se arrumar e arfar o peito, indo embora como uma sombra.



O magro lhe pagou, deixou o dinheiro sobre o papel higiênico, pois não tinha nada além do colchão fino no quarto do bordel, não falou, era mais uma sombra que ela via ir como a primeira, mas hoje  recebo estes trocados, pensava, e via mais uma sombra ir  embora.





2 comentários:

  1. Um conto intenso. Sua crueza nos tira o fôlego. Talvez a grande narrativa do Mouro nos últimos tempos.

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  2. Olá, tem um selo p ti no meu blog:
    http://lcambara2010.blogspot.com
    .
    Abraço

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