O bolo havia chego, encomenda muito angustiante, a mãe falava dele a manhã toda.
A tia Anastácia tinha acordado com dor no pé veio do interior para ajudar nos salgados.
Brincava, mas era interrompido para ajudar, aqui, ali, ser filho único é ser solícito por Involuntariedade.
Parou tudo para ver o desenho, era o único que gostava olhava e depois desligava a TV ou saía,e acompanhado, mas na verdade isso era raridade.
No almoço ouvia o nome de tantos parentes que se confundia, por isso resolveu entre uma colherada e outra pensar em quantos primos iriam vir a festa. Norberto, Julinho, a Val, Bebeto, Aninha, será que o Titi vem? Lembrou que a Camila sempre trás a vizinha que tem cara de brava, o Maninho da tia Lu , a Muriel, o Gus, e a Sandroca.
Sempre tinha sono depois do almoço, hoje não, ja que o sol também estava muito presente, alto, alto.
Quando passava pelo quarto via a escrivaninha e os cadernos, canetas, lápis, sabia que naquele dia não ia ter de estudar português, sorria, era como uma parte dos presentes.
A mãe chamou para o banho, tomou rápido, mas desta vez ninguém notou , colocou a camisa branca nova, não gostou muito dela mas nem ligou também, já estava quase na hora dos primeiros chegarem.
A correria começou, aqueles oi, abraços espinhosos, uns impotentes outros animalescos, tentava fugir, mas a chamada era grande, uma recomendação de um e de outrao mas sempre agradecia o presente recebido e os parabéns.
A bola tinha vida própria nos fundos da casa, naquela altura uma brisa como uma pluma o acordou do estase divertido, constatou, todos vieram. Sorriu.
Os salgadinhos eram vários, e a imaginação das brincadeiras um leque em dobro.
No quarto a cama estava colorida e repleta, representando como a festa estava boa, andava e pulava ou pulava andado, na pequena casa de material que ainda mexia com o nariz por ser nova e com o calor do verão tudo parecia mais sufocante.
Voltou aos fundos, Maninho estava parado em um canteiro ao sul da casa, retirava pedaços de alecrim e os cheirava demonstrando prazer.
_E ai Maninho não vai vir brincar com a gente?
_O guri meu negocio é outro, já to indo embora te ligou?
Na retina ficou reverberando aquela figura na camiseta do primo que tinha ar de desdém Dia e Noite de Escher, quis acompanhar com a cabeça aquele movimento , pássaros pretos e brancos, não entendeu, mas ficou ali até voltar do estranhamento, mesmo depois procurava o primo com o olhar, para poder ver a camisa novamente, já não brincava como antes.
A tarde ia se despedindo da festa, junto com ela gradativamente os convidados, o rito se repetia. Abraços, beijos alisamento na cabeça, pegadinha na bochecha, os cômodos começaram a ficar vazios e silenciosos, e seu olhar agitadamente lento a procura dos primos.
A mãe ficou na frente falando com dona Selma, estava tudo vazio e um balão circulava entre os cômodos, lentamente vermelho.
Pegou a bebida, no copo quadrado, colocou um gelo, sentou encostado na parede mais fria do fundo da casa e começou a dar adeus, falando sozinho, imitando um bêbado qualquer da TV ou das novelas.
Adeus Norberto, Julinho, Val, Bebeto, Muriel, Gus...
O sol o abandonou , também disse adeus para ele, e a noite chegou.
http://www.mcescher.com/
ótimo conto..simples e de grande significado..Gostei mesmo..
ResponderExcluirMuito bom mesmo Alceu, parabéns pelo lindo blog que tá muito bom de se ler...
ResponderExcluirTemos visto um novo Mouro emergindo a cada texto. Mais homem, mais humano, mais família.
ResponderExcluirNO entanto, a observação acurada tem se mantido. abraço
Legal teu http://mouroblog.blogspot.com
ResponderExcluirGostei do conto O Primeiro Adeus
Para mim, é um dos melhores.